A capacidade de funcionamento das células humanas diminui à medida que envelhecemos. Uma vez que o genoma acumula marcas de envelhecimento, a biologia regenerativa tem como objetivo reparar ou substituir essas células. A biomedicina já está presente nas duas novas áreas , na medicina regenerativa e na terapêutica endocanabinoide, atuando de forma direta e determinante para uma boa prática e excelência.
BIOMEDICINA REGENERATIVA E ENDOCANABINOIDES
A Biomedicina atua na investigação de princípios biológicos, fisiológicos na prática clínica e medicina aplicada. Abordamos a saúde a partir de um ponto de vista analítico, desse modo, procuramos entender os mecanismos do corpo e, assim, propor novas formas de diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças.
A biomedicina surge da necessidade apontada em desempenhar um papel central no avanço das ciências naturais para tratamento eficaz na desordem sistêmica humana.
A partir de estudos desenvolvidos através das ciências biológicas, bioquímicas, ciências da computação, engenharia de tecidos, genética, biotecnologia, medicina, métodos e diagnósticos laboratoriais, práticas clínicas e pesquisas bases que legitimam as políticas da saúde pública, de modo que, presenciamos uma revolução silenciosa com interface no aprimoramento de técnicas capazes de diminuir e amenizar o sofrimento físico e psíquico dos seres humanos.
As áreas biomédicas sofreram durante muitas décadas de obscurantismo e cercamento, mas a pesquisa científica avançou e, afinal, descortinou toda a incrível complexidade do sistema endocanabinoide (SEC). (41. Sidarta Ribeiro)
O prefixo “endo”, em endocanabinoides, indica que são compostos formados pelo nosso próprio organismo, através de estruturas moleculares análogas presentes na Cannabis, maconha.
O tratamento desenvolvido por meio das práticas fundamentais, onde o foco é o estado pleno no que se define saúde, elenca a medicina orgânica conceito aqui utilizado e aplicado para definirmos a regulação do tônus do sistema endocanabinoide, o SEC, através da correção de hábitos, alimentação, tratamentos à base de compostos fitoterápicos.
Toda essa terapêutica aliada `indicação dos protocolos de desinflamação, resultando ações axiais na comunicação intercelular, soa como uma sinfonia orquestrada pelos canabinoides no SEC a fim de equilibrar processos endógenos e a homeostase orgânica, qualificando e favorecendo a capacidade de regeneração adequada resumida na habilidade ‘nossa’ biológica de restaurar, renovar e fazer crescer diferentes células e tecidos.
Procuramos entender, como os canabinoides podem ser utilizados para alcançarmos uma resposta celular ideal na ação regenerativa e reparo tecidual.
SISTEMA HEMATOLÓGICO E ENDOCANABINOIDES
O sistema hematológico é responsável pela produção, transporte e eliminação das células sanguíneas, composto por células que são produzidas por proteínas e lipídios, utiliza glicose como combustível e depende de vitaminas e minerais para o funcionamento íntimo com os nossos órgãos e tecidos.
Um sistema tão ubíquo quanto o SEC que é um sistema de sinalização celular e tem como principal função regular diversos processos fisiológicos, como a resposta imunológica, a regulação do apetite, do humor e da memória, além de respostas significativas na analgesia de dores crônicas, modulações que contribui indispensavelmente no enfretamento de uma série de condições e patologias.
Conveniente, o fosso de ignorância que enfrentamos ao longo do proibicionismo, pouco se sabe sobre as interações do SEC e as células sanguíneas. Mas, há evidências, de que o SEC possa interagir com o sistema hematológico de diversas maneiras devido seus processos de sinalização, comunicação.
Logo após a clonagem do receptor CB1 do cérebro de rato em 1990 (Matsuda et al., 1990), o segundo receptor canabinoide CB2 foi descoberto em 1993, usando uma linhagem celular humana pré-mielocítica (Munro, Thomas & Abu-Shaar, 1993). De interesse é a observação de que o ligante fitocanabinoide, ∆9-tetraidrocanabinol (∆9-THC), bem como os agonistas canabinoides endógenos atualmente conhecidos, anandamida (araquidonoiletanolamina) e 2-AG (2-araquidonoil-glicerol), se ligam igualmente aos receptores CB1 e CB2, apesar da divergência estrutural entre estes dois receptores.
Após a descoberta dos receptores canabinoides, o achado de sua presença nos vários tipos celulares passou a ser uma etapa crucial na elucidação do papel do SEC no corpo humano. Elementos do SEC (receptores canabinoides CB1, CB2, endocanabinoides e sistemas enzimáticos envolvidos em sua síntese e metabolismo) são encontrados nas estruturas envolvidas no processo de homeostasia nas células hematológicas e várias vias de interação entre o sangue tecidos e órgãos.
PESQUISAS ATUAIS E EVIDÊNCIAS
Pesquisas sugerem, que a atuação e regulação do SEC podem ser elemento-chave na atividade celular, alcançando ambientes favoráveis na unidade funcional de regeneração dos tecidos e órgãos lesados estimulando-o fornecendo “instruções” para diferenciação de células-tronco hematopoiéticas, células-tronco mesenquimais, sendo assim este é o papel da biomedicina regenerativa.
De acordo com o estudo “Cannabinoid receptor 2 and its agonists mediate hematopoese and hematopoietic stem and progenitor cell mobilization” publicado na revista “Blood” em 2011, investigaram o papel do receptor CB2 na hematopoiese e no transporte de células progenitoras hematopoiéticas. Os pesquisadores usaram camundongos deficientes em CB2 e trataram como células com um agonista do CB2 para observar os efeitos na produção de células sanguíneas e na transmissão de células progenitoras hematopoiéticas.
Eles concluíram que o CB2 e seus agonistas desempenham um papel fundamental na regulação da hematopoiese e da captação de células progenitoras hematopoiéticas.
Outro estudo interessante, publicado em 2015 na revista Molecular and Cellular Endocrinology, “The endocannabinoid system and bone”, destaca a ativação do receptor CB1 podendo inibir a diferenciação das células mesenquimais em células adiposas, enquanto a ativação do receptor CB2 estimula a diferenciação das células mesenquimais em células ósseas.
Além disso, os endocanabinoides, como 2-AG, foram mostrados em estudos in vitro e em animais promoverem sobrevivência e as emergências de células mesenquimais. O artigo também discute o papel do SEC nas doenças ósseas, como a osteoporose e a osteoartrite. Estudos em animais sugerem que a modulação do SEC pode ter um efeito poderoso na densidade óssea e na função osteoblástica.
No entanto, há muitas pesquisas a serem realizadas sobre interação do SEC e as células sanguíneas para mapearmos todas as aplicações possíveis, mas, essas descobertas têm sido importantes para o desenvolvimento de terapias celulares, doenças e lesões. A modulação do SEC é uma abordagem útil e de extrema relevância para melhorarmos as condições e a função celular transplantada aumentando sua eficácia terapêutica.
SUBPRODUTOS, BIOMATERIAIS E ORTOBIOLÓGICOS
Diante a experiência na rotina de atendimentos e com base nas evidencias, ganhamos impulso nas terapias naturais onde utilizamos, biomateriais e subprodutos ricos em células e fatores de crescimento coletadas do corpo do próprio paciente, na tentativa de reparar, cicatrizar e regenerar tecidos lesados, de maneira minimamente invasiva, descartando em muitos casos a necessidade de intervenções cirúrgicas e métodos conservadores ineficazes.
Em particular, a ortobiologia tem se destacado na validação desses biomateriais, observamos as boas práticas de qualidade, a segurança oferecida, onde o risco de rejeição é nulo, justamente por ser um produto/material coletado do próprio indivíduo, apresentando menos efeitos colaterais do que os tratamentos convencionais. Essas aplicações articulares ou melhor, infiltrações, são indicadas na promoção da imunidade tecidual e na cobertura de lesões ortopédicas musculares, ósseas, tendinosas, articulares ou neurais.
Seria o grande encontro entre a biomedicina regenerativa e endocanabinoides na promoção da saúde bem estar e longevidade. Além das novas pesquisas e evidências que tendem a surgir com o passar dos anos.
O uso do plasma rico em plaquetas (PRP), tem sido cada vez mais estudado e sua eficácia acentuada em muitas áreas da medicina ortopédica. O sangue é coletado e preparado na centrífuga com o objetivo de separar as células do plasma por diferentes densidades e quando aplicado em um tecido lesionado, como um tendão inflamado (tendinite) por exemplo, o PRP é capaz de promover uma melhora da inflamação local, e por consequência, aliviar a dor.
Já o aspirado de medula óssea (BMAC), são derivados de tecidos que contém células tronco mesenquimais, consiste em realizar uma punção na região do ilíaco do paciente, aspirar uma amostra da medula óssea, centrifugar este aspirado, isolamos o que chamamos de “buffycoat” que é a parte que contém as células mesenquimais e progenitoras (células formadoras de tecido ósseo, cartilagem e musculares) e podem ser usados em vários tratamentos que necessitem de um crescimento tecidual (osso, cartilagem, tendão), dentre eles, os mais utilizados são para tratamento de necrose óssea da cabeça femoral e pseudoartrose em fraturas.
E o aspirado de gordura abdominal, da mesma forma que o BMAC são obtidos aspirando o conteúdo da medula óssea. A gordura aspirada é colocada em um dispositivo, que retira as células adiposas, fazendo um concentrado de células tronco, que tem um potencial reparador similar ao do BMAC, fonte de células mesenquimais tem ganhado cada vez mais atenção e é considerado uma alternativa promissora para a medula óssea como fonte de células para terapias ortobiológicas.
Citamos apenas algumas aplicações ortobiológicas possíveis no cenário regenerativo, entretanto, para garantirmos o uso adequado dessas infiltrações, nós biomédicos realizamos uma análise minuciosa, considerando o histórico médico e saúde do paciente, implementamos também, a manipulação desses ortobiológicos verificando a concentração e qualidade dos componentes celulares e proteicos presentes no material coletado, garantindo que o produto final esteja dentro dos padrões de qualidade e eficácia, mas vale a pena lembrar, que são técnicas para tratamentos específicos, e ainda, não servem para todos os tipos de lesões.
E por isso, o sucesso desse tratamento está na indicação correta de cada terapia, específico para cada doença e lesão. Sendo assim, a consulta e o acompanhamento com um especialista médico, é necessário e de extrema importância para um diagnóstico assertivo e respostas terapêuticas eficazes, acrescento, que a utilização destas terapias biológicas deve seguir a legislação vigente em cada país conforme as resoluções específicas dos seus órgãos regulatórios.
Resumo que, os procedimentos que valorizam o organismo daquele que busca uma recuperação natural, utilizando as próprias células saudáveis, valoriza, o nosso organismo em promover uma recuperação mais eficaz, minimizando a necessidade de intervenções invasivas e medicamentosas que podem ter efeitos colaterais. Uma abordagem integrativa para cuidar da nossa saúde, é uma alternativa promissora para enfrentarmos uma gama de doenças e condições de saúde como maiores representantes do corpo vivo!
Texto escrito por Dra Isabela Carvalho Biomédica do Instituto de Medicina Orgânica.