Beta cariofileno é o Canabidiol da Amazônia ?

beta-cariofileno canabidiol

Quem é o Beta-Cariofileno ?

     Os terpenos são constituintes comuns de aromas e fragrâncias. Os terpenos, ao contrário dos canabinoides, são responsáveis pelo aroma da cannabis. O FDA e outras agências geralmente reconhecem os terpenos como “seguros”. Os terpenos atuam em receptores e neurotransmissores; eles são propensos a se combinar ou se dissolver em lipídios ou gorduras; agem como inibidores da captação de serotonina (semelhantes a antidepressivos como o Prozac); eles aumentam a atividade da norepinefrina (semelhante aos antidepressivos tricíclicos como Elavil); eles aumentam a atividade da dopamina; e aumentam o GABA (o neurotransmissor “inferior” que combate o glutamato, o “superior”).
     
      O beta-cariofileno é um terpeno que tem um aroma forte e picante comumente associado a cravo, lúpulo e alecrim. Emite um aroma semelhante à pimenta-do-reino e possui benefícios medicinais específicos, como redução da inflamação, proteção do sistema vascular e do intestino, sendo antimicrobiano, reduzindo a depressão e a ansiedade e, principalmente, aliviando a dor. Para uma pessoa que tem inflamação constante, o beta-cariofileno pode ser a solução.
 
      O beta-cariofileno é um sesquiterpeno encontrado em muitas plantas, como copaíba, Ylang Ylang, basílico tailandês, cravo, folhas de canela e pimenta-do-reino, e em pequenas quantidades na alfazema. Seu aroma foi descrito como apimentado, amadeirado e / ou picante. Mas também encontrado em inúmeras variedades de cannabis sativa. Existem outros tipos de cariofileno : por exemplo alfa-cariofileno e óxido de cariofileno.

      

      O cariofileno é o único terpeno conhecido por interagir com o sistema endocanabinoide (CB2). Estudos mostram que o β-cariofileno é uma promessa nos planos de tratamento do câncer. A pesquisa mostra que o β-cariofileno se liga seletivamente ao receptor CB2 e que é um agonista CB2 funcional. Além disso, o β-cariofileno foi identificado como um ligante do receptor CB2 não psicoativo funcional em alimentos e como um canabinoide antiinflamatório macrocíclico na cannabis.

      Essa ação do beta-cariofileno é específica sobre o receptor CB2 não havendo demais receptores atuando de forma significativa. Assim como o canabidiol também atua sobre o mesmo receptor, só que de uma forma diferente. Podemos dizer até que o beta-cariofileno possui uma afinidade maior pelo receptor CB2 mas o mecanismo de ação sobre ele é completamente diferente. Isso não exclui a importância do cariofileno para manutenção do tônus canabinoide. Mas será que ele substitui o canabidiol na sua integralidade ?

      O estudo de dor Fine / Rosenfeld demonstra que outros fitocanabinoides em combinação, especialmente canabidiol (CBD) e β-cariofileno, administrados por via oral, parecem ser candidatos promissores para o tratamento da dor crônica devido aos seus perfis de alta segurança e baixos efeitos adversos.

      O estudo de Horváth et al sugere que o β-cariofileno, por meio de uma via dependente do receptor CB2, pode ser um excelente agente terapêutico para prevenir a nefrotoxicidade (efeito tóxico nos rins) causada por quimioterápicos anticâncer como a cisplatina.

      O estudo de Jeena, Liju et al investigou a composição química do óleo essencial isolado da pimenta-do-reino, do qual o cariofileno é o principal constituinte, e estudou suas propriedades farmacológicas. O óleo de pimenta preta possui propriedades antioxidantes, antiinflamatórias e antinociceptivas. 

      Isso sugere que as cepas com alto teor de cariofileno podem ser úteis no tratamento de uma série de problemas médicos, como artrite e dor neuropática.

     
cariofileno e canabidiol

E o que podemos dizer sobre o canabidiol ?

      O canabidiol (CBD) é um fitocanabinóide com baixa psicoatividade abundante em extratos de cannabis que tem afinidade por uma série de receptores, incluindo o receptor canabinóide tipo 1 (CB1), receptor canabinóide tipo 2 (CB2), GPR55, vanilóide potencial do receptor transitório (TRPV) e receptor gama ativado por proliferador de peroxissoma (PPARγ). É uma lista extensa em torno de 60 alvos e sítios de ação que esse canabinoide tem e essa lista aumenta ainda mais quando está associado o efeito comitiva dos outros metabólitos da cannabis ( efeito entourage ).

      Ao modular as atividades desses receptores, o CBD exibe múltiplos efeitos terapêuticos, incluindo propriedades neuroprotetoras, antiepilépticas, ansiolíticas, antipsicóticas, anti-inflamatórias, analgésicas e anticancerígenas. Além de atuarem diretamente no tônus endocanabinoide podendo prevenir e retardar algumas condições degenerativas, advindas do seu efeito citoprotetor e redutor do estresse oxidativo.

    Cannabis não é CBD apenas,  é bem importante lembrar que a cannabis possui mais de 100 compostos canabinoides e outros além destes que em conjunto geram um efeito conhecido como efeito comitiva.

      A sinergia desses compostos podem implementar ou até desenvolver novas propriedades e mecanismos de ação que levam à resultados diversos. O canabidiol age através de mais de 60 mecanismos diferentes é só 30 % destes são elucidados até o momento. Ainda existe muita estrada pra ser percorrida e muita coisa á ser descoberta.      

Então, beta-cariofileno e canabidiol são ou não, a mesma coisa ?

      É claro que não, e seria uma falácia afirmar que atuam da mesma forma apenas por se ligarem no mesmo local no corpo humano. Ao mesmo tempo que o beta-cariofileno é uma substância terapêutica e com inúmeros benefícios para a saúde, vender como canabidiol, seria uma propaganda enganosa e que poderia induzir as pessoas á comprar algo que não condiz com o rótulo.

      O beta-cariofileno, um agonista CB1 fraco, é o que os cientistas chamam de “agonista total” no receptor canabinóide CB2, que desempenha um papel importante na regulação da função imunológica e inflamação e o Canabidiol parece ter uma ação do tipo antagonismo inverso em modulação alostérica. A sua presença em muitos alimentos e especiarias e a sua forte afinidade com o CB2 fizeram com que o BCP fosse reconhecido como o primeiro “canabinoide dietético” conhecido. Mas é claro que esse termo canabinoide é controverso mas de uma certa forma, do ponto de vista químico, poderia sim ser considerado um canabinoide, mas não o canabidiol.

      Vários estudos mostraram que o beta-cariofileno também interage com os receptores ativados por proliferadores de peroxissoma (PPARs, pronuncia-se pee-parrs ) localizados na superfície do núcleo da célula. O CBD também ativa esses receptores, que regulam o metabolismo e a homeostase energética.

      Eles utilizam siglas como canabidiol-like ou canabinoid active system, mas o beta cariofileno assim como qualquer outro canabimimético, apenas mimetiza o efeito de alguns canabinoides , mas não substitui de forma alguma como um todo. O canabidiol tem uma ação muito mais ampla, extensa, sinérgica quando presente outros compostos da planta e até o momento, não foi possível extrair de forma viável de nenhuma planta , mesmo que ela contenha em sua composição.

      A planta da cannabis, dependendo do seu quimovar, produz o canabidiol em grandes quantidades, fáceis de serem extraídas e de acesso que poderia ser facilitado e barateado pela regulamentação e legislação mais atuais. Porém não seria visto com maus olhos, a indústria dos cosméticos e de saúde, assumirem que mesmo atuando sobre o receptor CB2 , o beta-cariofileno , de forma alguma substitui o canabidiol. Interessante é ver os dois atuarem juntos, mas daí é assunto para outro artigo.

 

Leiam mais nas páginas dos artigos abaixo :

Blog MedCan

Terpenos e aplicações clínicas

CBD – canabidiol e aplicações terapêuticas

CBA – falso CBD vendido pela indústria de cosméticos

 

 

 

  1. Raz, Noa et al. “Os terpenos de cannabis selecionados sinergizam com o THC para produzir maior ativação do receptor CB1.” Farmacologia bioquímica vol. 212 (2023): 115548. doi:10.1016/j.bcp.2023.115548
  2. LaVigne, Justin E et al. “Os terpenos da Cannabis sativa são canabimiméticos e aumentam seletivamente a atividade canabinóide.” Relatórios científicos vol. 11,1 8232. 15 abr. 2021, doi:10.1038/s41598-021-87740-8

Antes de entrar em contato nos informe seus dados abaixo: