endometriose e cannabis

Endometriose e Cannabis : Qual a relação entre elas ? 

         Desde a descoberta dos endocanabinoides e na possibilidade de a sua produção insuficiente num organismo humano, ser capaz de desenvolver doenças crônicas como a Fibromialgia, Enxaqueca e o Intestino Irritável ( teoria desenvolvida pelo cientista Ethan Russo ), houveram dezenas de condições patológicas que também podem surgir devido à essa produção insuficiente.
         Estudos indicam que os endocanabinoides desempenham um papel importante na modulação da dor, inflamação, função imunológica e regulação hormonal, entre outras funções fisiológicas. Dessa forma, há uma crescente compreensão de que desequilíbrios nos níveis de endocanabinoides e na sinalização dos receptores canabinoides podem estar envolvidos na patogênese de várias condições, incluindo a endometriose.

Endometriose e suas características      

        A endometriose é uma condição ginecológica crônica caracterizada pela presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina. O endométrio é o tecido que reveste o interior do útero e que normalmente é eliminado durante a menstruação. No entanto, em mulheres com endometriose, esse tecido cresce em outras áreas do corpo, como os ovários, as trompas de Falópio, o peritônio (a membrana que reveste a cavidade abdominal) e outros órgãos pélvicos.

Fisiopatogênese da endometriose

         A fisiopatologia da endometriose ainda não está completamente compreendida, mas várias teorias foram propostas. Uma das teorias mais aceitas é a teoria da menstruação retrógrada, que sugere que o tecido menstrual flui para trás, através das trompas de Falópio, em vez de sair do corpo através do colo do útero. Este tecido então se implanta e cresce em outras áreas, formando lesões endometrióticas.

        Outras teorias desenvolvidas anteriormente incluem a disseminação hematogênica (através da corrente sanguínea) ou linfática (através dos vasos linfáticos) do tecido endometrial, bem como a diferenciação de células-tronco em tecido endometrial fora do útero. Isso foi antes dos estudos sobre a possibilidade de haver uma relação entre endocanabinoides e desenvolvimento da endometriose.

Sintomas 

         Os sintomas da endometriose podem variar amplamente, desde assintomáticos até extremamente debilitantes. Os sintomas comuns incluem dor pélvica crônica, especialmente durante a menstruação (dismenorreia), dor durante a relação sexual (dispareunia), dor ao urinar ou defecar, sangramento menstrual anormal, fadiga e infertilidade.

Diagnóstico

         O diagnóstico de endometriose geralmente envolve uma combinação de história clínica, exame físico e exames complementares. A laparoscopia é considerada o padrão ouro para o diagnóstico, onde um médico insere um pequeno telescópio através de uma pequena incisão na parede abdominal para visualizar diretamente as lesões endometrióticas e, se necessário, realizar biópsias.

         Outros métodos diagnósticos incluem ultrassonografia transvaginal com preparação intestinal, ressonância magnética pélvica e exames laboratoriais para marcadores inflamatórios.

Causas Prováveis

       As causas exatas da endometriose ainda não são completamente compreendidas, mas vários fatores podem contribuir para o seu desenvolvimento, incluindo a genética, história reprodutiva, exposição a estrogênios e predisposição imunológica.

Tratamento

        O tratamento da endometriose depende da gravidade dos sintomas, da idade da paciente, dos planos reprodutivos e de outros fatores individuais. As opções de tratamento podem incluir medicamentos para alívio da dor, terapia hormonal para suprimir o crescimento do tecido endometrial, cirurgia para remover as lesões endometrióticas (laparoscopia ou laparotomia) e tratamentos complementares, como fisioterapia e terapia nutricional.

endometriose

       Endocanabinoides e Endometriose:

        Os endocanabinoides são compostos lipídicos endógenos que interagem com os receptores canabinoides no corpo humano. Esses receptores, conhecidos como receptores CB1 e CB2, estão amplamente distribuídos em vários sistemas do organismo, incluindo o sistema nervoso central, o sistema imunológico e o sistema reprodutivo. Além dos receptores há o envolvimento dos endocanabinoides em cada um destes sitios de propagação da endometriose. Para acesso à essa pesquisa clique aqui .

        Estudos indicam que os endocanabinoides desempenham um papel importante na modulação da dor, inflamação, função imunológica e regulação hormonal, entre outras funções fisiológicas. Dessa forma, há uma crescente compreensão de que desequilíbrios nos níveis de endocanabinoides e na sinalização dos receptores canabinoides podem estar envolvidos na patogênese de várias condições, incluindo a endometriose.

Estudos Relacionando Endometriose e Síndrome da Deficiência de Endocanabinoides:

        Pesquisas, incluindo aquelas promovidas pela Genester e outros médicos, têm investigado a possibilidade de que a endometriose possa ser associada a uma disfunção na produção, metabolismo ou sinalização dos endocanabinoides.

        Alguns estudos sugerem que mulheres com endometriose podem ter níveis reduzidos de endocanabinoides ou expressão diminuída de receptores canabinoides em comparação com mulheres saudáveis. Essa diminuição na sinalização dos endocanabinoides pode contribuir para o desenvolvimento e progressão da endometriose, afetando a inflamação, dor, função imunológica e outros aspectos relacionados à doença.

         Além disso, alguns pesquisadores exploraram o potencial terapêutico dos canabinoides exógenos, como o tetraidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), no manejo dos sintomas da endometriose. Estudos preliminares sugerem que esses compostos podem ter propriedades analgésicas, anti-inflamatórias e reguladoras da função imunológica, o que pode ser benéfico para mulheres com endometriose.

        Embora haja um interesse crescente na relação entre endometriose e síndrome da deficiência de endocanabinoides, é importante destacar que mais pesquisas são necessárias para elucidar completamente essa associação e determinar o potencial terapêutico dos canabinoides na endometriose.

        Os médicos e pesquisadores devem continuar a explorar essa área para melhor compreender os mecanismos subjacentes à endometriose e desenvolver estratégias de tratamento mais eficazes e personalizadas para as mulheres afetadas por essa condição.

endometriose e endocanabinoides

Figura 1. Distribuição dos principais componentes do sistema endocanabinóide (ECS) nos tecidos reprodutivos femininos humanos. No ovário, são representados os diferentes estágios de desenvolvimento folicular de  primordial/primário, secundário, terciário, pré-ovulatório/Graafian, até folículos ovulantes. Após a conclusão da ovulação, a condensação das células granulosas e da teca mural formam o corpo lúteo , uma estrutura que produz a progesterona necessária para a continuação da gravidez precoce. Na ausência de gravidez, o corpo lúteo degenera em corpo albicans. Ao longo do ciclo ovariano, CB 1 (receptor canabinóide tipo 1) e CB 2 (receptor canabinóide tipo 2), amida hidrolase de ácido graxo (FAAH) e fosfolipase D específica de N- acilfosfatidiletanolamina (NAPE-PLD) são produzidos nas várias células. do folículo em desenvolvimento e do corpo lúteo, incluindo o ovócito. Da mesma forma, CB 1 , CB 2 , FAAH e NAPE-PLD são expressos na trompa de Falópio e no endométrio ao longo do ciclo menstrual, onde são regulados pelas ações do estradiol e da progesterona. As células citotrofoblásticas e sinciciotrofoblásticas da placenta inicial também expressam CB 1 , CB 2 , FAAH e NAPE-PLD, onde a modulação da expressão proteica ocorre quando a produção de progesterona muda do corpo lúteo para a placenta.

Tratamento da Endometriose e Cannabis

        A relação entre o canabidiol (CBD), o tetraidrocanabinol (THC) e outros canabinoides no tratamento dos sintomas da endometriose envolve vários mecanismos fisiológicos que podem aliviar a dor, a inflamação e outros sintomas associados à condição. Além disso, há evidências emergentes sugerindo que os fitocanabinoides podem desempenhar um papel no tratamento da causa subjacente da endometriose. Vou explorar esses aspectos com base em evidências científicas disponíveis:

1. Alívio da dor: Tanto o CBD quanto o THC têm propriedades analgésicas bem documentadas. Eles interagem com receptores específicos no sistema nervoso, incluindo os receptores CB1 e CB2, para modular a percepção da dor. Como a endometriose é frequentemente associada a dor pélvica crônica, o uso de canabinoides pode ajudar a reduzir a intensidade da dor e melhorar a qualidade de vida das pacientes.

2. Redução da inflamação: A endometriose é uma condição inflamatória, e tanto o CBD quanto o THC têm propriedades anti-inflamatórias bem estabelecidas. Eles podem modular a resposta imunológica e reduzir a produção de citocinas pró-inflamatórias, contribuindo para a diminuição da inflamação associada à endometriose.

3. Controle hormonal: Os canabinoides também podem influenciar os níveis hormonais no corpo, o que é relevante para a endometriose, uma vez que a condição está relacionada aos ciclos menstruais e aos níveis de estrogênio. Embora mais pesquisas sejam necessárias para entender completamente esse aspecto, alguns estudos sugerem que os canabinoides podem modular a produção e a atividade hormonal.

        Evidências sobre o tratamento da causa subjacente: Embora ainda esteja em estágios iniciais, há algumas evidências sugerindo que os fitocanabinoides podem ter efeitos sobre os mecanismos subjacentes à endometriose. Por exemplo, estudos pré-clínicos indicam que os canabinoides podem inibir a adesão, a invasão e a sobrevivência das células endometriais fora do útero. Além disso, os canabinoides podem modular a resposta imunológica e a inflamação associadas à endometriose, potencialmente retardando ou impedindo a progressão da doença.

        No entanto, é importante ressaltar que mais pesquisas são necessárias para confirmar esses efeitos e determinar a eficácia dos fitocanabinoides no tratamento da endometriose. Atualmente, muitos estudos estão em andamento para investigar o potencial terapêutico dos canabinoides nesta condição, e os resultados dessas pesquisas ajudarão a orientar o uso clínico dessas substâncias no futuro. 

        Nesse momento é possível a prescrição no Brasil de forma compassiva, desde que o médico conduza o tratamento e prescreva, é importante optar por essa alternativa, principalmente em casos refratários e graves.

 

Referências : 

Taylor AH, Tortolani D, Ayakannu T, Konje JC, Maccarrone M. (Endo)Cannabinoids and Gynaecological Cancers. Cancers. 2021; 13(1):37. https://doi.org/10.3390/cancers13010037

https://www.fundacion-canna.es/en/role-cannabis-endometriosis-treatment

 

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