No contexto atual de crescente incidência de ansiedade e síndrome de burnout, especialmente entre profissionais de saúde e em ambientes corporativos competitivos, emergem as terapias com fitocanabinoides, em particular o canabidiol (CBD), como alternativas terapêuticas naturais.
Este artigo explora as evidências científicas atuais sobre o uso da cannabis na ansiedade e burnout. Além disso, explicamos os mecanismos de ação, os institutos de pesquisa envolvidos e o nível de evidência disponível.

Evidências clínicas sobre CBD e ansiedade
De acordo com uma meta‑análise de 2024, que incluiu oito estudos clínicos com 316 participantes (GAD, SAD, PTSD), o CBD demonstrou efeito ansiolítico significativo com tamanhos de efeito consideráveis (Hedges’ g ≈ –0,92; IC 95%: –1,80 a –0,04).
Antes disso, uma revisão sistemática de 2020, com 14 ensaios randomizados e 1.548 indivíduos, encontrou redução nos sintomas de ansiedade (SMD = –1,85), embora o efeito perdesse significância após correção para viés de publicação.
Além disso, um estudo brasileiro com profissionais de saúde na linha de frente da pandemia testou 300 mg/dia de CBD por 28 dias.
Os resultados mostraram redução de aproximadamente 60% em sintomas de ansiedade, 50% em depressão e 25% em burnout em comparação com o grupo controle (tratamento padrão sem CBD).
Observou-se que os efeitos ansiolíticos persistiam até quatro semanas após a descontinuação do tratamento, demonstrando a ação da cannabis na ansiedade e burnout.
Evidências sobre CBD e burnout
O estudo coordenado pela FMRP-USP, publicado no JAMA, é um dos primeiros a investigar o uso de CBD isolado para burnout em trabalhadores da saúde. Nele, 120 participantes foram divididos entre CBD + cuidados padrão ou apenas cuidados padrão.
Ao final de 28 dias, os que receberam CBD apresentaram redução de ~25% nos sintomas de burnout, corroborando efeitos ansiolíticos e antidepressivos importantes.
Apesar disso, trata‑se de estudo aberto e não totalmente cegado, o que impõe limitações metodológicas. Portanto, são necessários ensaios clínicos duplo‑cego e placebo‑controlados para confirmar esses achados.
Mecanismos de ação da cannabis na ansiedade e burnout
Diversas linhas de pesquisa indicam os seguintes mecanismos de ação do CBD e outros canabinoides nas condições de ansiedade e estresse:
Modulação dos receptores 5‑HT1A: O CBD tem ação agonista parcial nesse receptor de serotonina, o que consiste em um mecanismo clássico relacionado a efeitos ansiolíticos.
Elevação da anandamida: O CBD inibe a enzima FAAH (hidrolase de amida de ácido graxo), aumentando os níveis de anandamida endógena, o que reforça a ativação dos receptores CB1 no cérebro e promove ação ansiolítica.
Efeito em TRPV1: Em doses intermediárias, o CBD antagoniza o canal TRPV1, contribuindo para redução da ansiedade; em doses muito elevadas, pode ocorrer efeito agonista e predispor a ansiogenicidade, revelando curva dose-resposta em formato “bell-shape” .
Ação anti‑inflamatória e neuroprotetora: O CBD e o THC têm efeitos sobre inflamação sistêmica e neuroinflamação, o que alivia sintomas físicos associados ao burnout, como fadiga e dores associadas ao estresse crônico .
Adicionalmente, outros fitocanabinoides como o CBG (cannabigerol) atuam parcialmente nos receptores CB1/CB2 e em α2‑adrenérgicos, podendo exercer efeitos calmantes e reguladores da pressão e batimentos cardíacos, embora ainda sem evidência robusta em humanos para ansiedade ou burnout .
Instituições e equipes de pesquisa
No Brasil, o principal estudo com foco em burnout foi realizado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, coordenado pelo psiquiatra José Alexandre Crippa, com colaboração de pesquisadores da FMRP‑USP, UFRGS, UNIFESP, University of Michigan, entre outros.
Globalmente, projetos como os da International Cannabinoid Research Society (ICRS) e da Cannabinoid Research Initiative of Saskatchewan (CRIS) investigam os efeitos de diferentes fitocanabinoides em desordens psiquiátricas, ansiedade e estresse, concentrando-se em ensaios humanos e modulação de receptores do sistema endocanabinoide. Os níveis de evidência da cannabis na ansiedade e burnout :
Ansiedade: A evidência científica disponível é promissora, com efeitos moderados a grandes em metanálises clínicas pequenas, mas ainda com limitações metodológicas e amostras reduzidas. Por isso, a evidência é classificada como nível moderado‑baixa, necessitando de estudos robustos com maior amostragem e controle rigoroso .
Burnout: A única evidência clínica publicada até o momento é o estudo aberto da FMRP‑USP, que apresenta resultados encorajadores mas restritos a profissionais de saúde durante a pandemia. Assim, o nível de evidência atual é preliminar, exigindo confirmação por ensaios duplo‑cego e multicêntricos.
Considerações práticas para prescrição
Doses utilizadas nos estudos: aproximadamente 300 mg/dia de CBD isolado, por via oral, durante 28 dias em profissionais de saúde .
Perfil de segurança: O CBD é geralmente bem tolerado, com segurança relatada até 1.500 mg/dia em ambientes controlados. No estudo da USP, apenas cinco participantes relataram efeitos adversos leves a moderados (elevação enzimática hepática e farmacodermia), com reversão ao interromper o uso.
Interações medicamentosas: o CBD pode interagir com benzodiazepínicos ou outros psicotrópicos, portanto uso sob orientação médica é essencial .
Em resumo, o uso de cannabis na ansiedade e burnout, especialmente por meio do CBD, possui base científica crescente, ainda que limitada a estudos com pequena amostra e, no caso do burnout, ainda sem ensaios cego‑controlados.
Os mecanismos bioquímicos – incluindo agonismo 5‑HT1A, inibição de FAAH e modulação de TRPV1 – fornecem respaldo plausível à ação ansiolítica. Instituições brasileiras como a USP e redes internacionais como CRIS assumem centralidade nesse debate. Assim, embora promissora, a terapia com fitocanabinoides requer prescrição médica criteriosa, individualizada e monitoramento laboratorial adequado.
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Referências bibliográficas
Medina et al. Therapeutic potential of cannabidiol (CBD) in anxiety disorders: a systematic review and meta‑analysis (2024)
Meta‑análise de 14 estudos sobre ansiedade/transtornos e canabinoides (2020)
Souza et al. (FMRP‑USP): Efficacy and Safety of Cannabidiol Plus Standard Care vs Standard Care Alone for Treatment of Burnout (2021‑2022)
Wright et al.: síntese pre‑clínica e clínica sobre CBD e ansiedade (2020)