
Cannabis e Insônia: O que a ciência revela sobre os efeitos dos canabinoides no sono
A insônia afeta até 30% da população global, comprometendo não apenas o descanso noturno, mas também a qualidade de vida, o desempenho cognitivo e a saúde mental. Diante disso, cresce o interesse por abordagens naturais e eficazes para restaurar o sono, e a cannabis medicinal vem se destacando como uma opção promissora. Mas afinal, o que diz a ciência sobre a relação entre cannabis e insônia?
O papel do sistema endocanabinoide no sono
O ponto de partida está no sistema endocanabinoide (SEC), uma rede fisiológica que regula funções essenciais como sono, apetite, humor e dor. Um dos principais mensageiros desse sistema é a anandamida (AEA), um endocanabinoide natural que se liga aos receptores CB1 no cérebro. Em um estudo clássico (Murillo-Rodríguez et al., 1998), a anandamida mostrou-se capaz de aumentar o sono de ondas lentas (profundo) e o sono REM, reduzindo os períodos de vigília.
Fitocanabinoides como o THC (tetra-hidrocanabinol) e o CBN (canabinol) atuam de forma semelhante, mimetizando a ação da anandamida ao ativar os mesmos receptores CB1. Essa descoberta abriu caminho para pesquisas que investigam o uso de compostos da cannabis no tratamento de distúrbios do sono, incluindo a insônia crônica.
Além disso, outros componentes do chamado endocanabinoma (eCBome), como serotonina, dopamina, GABA e receptores adrenérgicos, também são modulados por canabinoides e terpenos, ampliando o potencial terapêutico da planta.
THC: potente indutor do sono, mas com dose ideal
O THC é o canabinoide mais conhecido da planta. Em doses adequadas, ele reduz a latência do sono — ou seja, o tempo que levamos para adormecer. Um estudo de Nicolson et al. (2004) mostrou que doses baixas de THC foram eficazes para induzir o sono em pacientes com insônia.
Outro ensaio clínico sobre cannabis e insônia, publicado por Suraev et al. (2021), avaliou a fórmula ZTL-101 (uma combinação de THC e CBD) e demonstrou melhora significativa na qualidade e duração do sono, sem efeitos colaterais graves.
Contudo, o THC tem ação bifásica: enquanto doses de 2,5 a 10 mg podem promover sono e relaxamento, doses elevadas podem causar efeitos indesejáveis como ansiedade, sonolência matinal ou até mesmo piora da insônia em pessoas sensíveis. O uso contínuo e mal ajustado também pode suprimir o sono REM, levando a relatos de ausência de sonhos.
Em pacientes com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), o THC ou seu análogo sintético, nabilona, mostrou eficácia na redução de pesadelos, especialmente quando combinado com outros canabinoides (Bonn-Miller et al., 2023).
CBD: ansiolítico e regulador do sono, com dose dependente
O CBD (canabidiol) não possui efeitos psicoativos, mas atua como modulador da ansiedade e da hiperexcitação cortical. Ele interage com receptores como o 5-HT1A (serotonina) e A2A (adenosina), promovendo um estado de relaxamento propício efeitos positivos da cannabis e insônia.
Em estudos clínicos, o CBD mostrou resultados interessantes:
- Kisiolek et al. (2023): melhora da qualidade do sono com doses de 50 mg. 
- Carlini & Cunha (1981): aumento da duração do sono com 160 mg. 
- Nicolson et al. (2004): doses de 15 mg podem ter efeito estimulante, alertando para o impacto da posologia individualizada. 
Além disso, o CBDA (ácido canabidiólico) — forma ácida e não descarboxilada do CBD — mostrou ser até 1000 vezes mais potente no receptor de serotonina, conforme Walsh et al. (2021). Segundo Wakshlag et al. (2020), o CBDA também produz níveis três vezes mais altos de CBD no organismo quando administrado por via oral, o que representa uma estratégia terapêutica futura.
CBN: manutenção do sono e sinergia com THC
O CBN é um canabinoide menor derivado da oxidação do THC. Embora tenha efeito mais leve isoladamente, sua combinação com THC tem demonstrado sinergia importante.
Em estudo clínico recente (Bonn-Miller et al., 2023), 20 mg de CBN administrados antes de dormir reduziram significativamente o número de despertares noturnos, sem causar sedação diurna. Segundo Maioli et al. (2022), o THC tem 10 vezes mais afinidade com o receptor CB1 do que o CBN, mas este último parece potencializar os efeitos sedativos do THC em formulações combinadas.
Terpenos e flavonoides: o efeito entourage no sono
A cannabis também contém terpenos, compostos aromáticos com propriedades terapêuticas. Entre os mais relevantes para o sono estão:
- Mirceno: efeito sedativo e relaxante muscular. 
- Linalol: atua em receptores GABA-A, semelhante a benzodiazepínicos. 
- Terpineol e cariofileno: efeitos ansiolíticos e analgésicos. 
Estudos como o de Linck et al. (2009) confirmam os efeitos sedativos do linalol em modelos animais. Já Russo et al. (2011) cunharam o termo “efeito entourage”, descrevendo a ação sinérgica entre canabinoides e terpenos.
Além disso, flavonoides como a apigenina, também presente na camomila, atuam nos mesmos receptores dos benzodiazepínicos, favorecendo um sono profundo e reparador.
Cannabis full spectrum: o equilíbrio natural da planta
Produtos de cannabis full spectrum mantêm a composição natural da planta, com a presença simultânea de THC, CBD, CBN, terpenos e flavonoides. Essa abordagem se mostrou especialmente eficaz da cannabis e insônia.
Walsh et al. (2021) demonstraram que o uso de formulação full spectrum (ZTL-101) resultou em melhora expressiva da latência do sono e da qualidade percebida. Já Arkell et al. (2023) observaram aumento de melatonina e sono leve em pacientes tratados com cannabis full spectrum. Mais de 60% dos participantes deixaram de preencher os critérios clínicos para insônia após 14 dias.
Veja nesse link o painel de pesquisa sobre cannabis e insônia.

Cannabis e insônia com base científica
A ciência confirma: a cannabis pode ser uma aliada eficaz no tratamento da insônia, desde que bem indicada e personalizada. THC reduz o tempo para adormecer, CBD acalma a mente, CBN ajuda a manter o sono, e os terpenos e flavonoides completam a ação de forma sinérgica.
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