A História da Cannabis Sativa: Uso Antigo, Religioso, Médico e Pesquisas em Israel
A história da Cannabis sativa remonta a milênios, com evidências de seu uso em diversas culturas ao redor do mundo. Essa planta versátil e multifuncional desempenhou papéis significativos na medicina, na religião e na pesquisa científica. Neste texto, exploraremos a história rica e complexa da Cannabis sativa, desde seus primeiros usos até as pesquisas mais recentes na década de 60 em Israel.
Uso Antigo:
Os primeiros vestígios do uso da cannabis datam de milênios atrás, sendo amplamente difundida na Ásia Central, especialmente na região que hoje compreende a China. Os primeiros registros de seu uso remontam a 2.700 a.C., quando a planta era cultivada e utilizada para produção de fibras têxteis e cordas.
Os chineses reconheciam os benefícios das sementes de cânhamo como uma fonte de alimento rica em proteínas e óleos, que eram usadas para fins medicinais. A cannabis também era utilizada em rituais religiosos e cerimônias culturais.
Historia da Cannabis na Cultura Indiana:
Na Índia, a história da cannabis tem raízes profundas, principalmente no contexto religioso e espiritual. A planta é associada ao deus hindu Shiva, que é frequentemente retratado fumando charas, uma forma de haxixe feito a partir das flores da cannabis. Acredita-se que o consumo da planta aproxime os devotos de uma experiência divina.
Os textos antigos conhecidos como Vedas, que datam de mais de 3.000 anos atrás, fazem referência à cannabis como uma planta sagrada. Em algumas partes da Índia, a cannabis ainda é usada em festivais religiosos, como o Holi, onde é consumida como parte da celebração espiritual.
2500 a.C.: Os Vedas, textos antigos da Índia, fazem referência à cannabis como uma planta sagrada associada ao deus hindu Shiva. Acredita-se que o consumo da planta tenha raízes profundas em práticas religiosas e cerimônias espirituais.
2000 a.C. a 1000 a.C.: A literatura médica indiana, incluindo os Sushruta Samhita e os Charaka Samhita, descreve o uso da cannabis para fins medicinais. Ela era usada no tratamento de uma variedade de condições, como insônia, dores de cabeça e reumatismo.
História da Cannabis na Cultura Egípcia:
No Egito antigo, há evidências do uso da cannabis com fins medicinais e industriais. Sementes de cânhamo foram encontradas em tumbas egípcias antigas, sugerindo que a planta era usada como alimento. Além disso, os antigos egípcios usavam o cânhamo na produção de cordas, tecidos e até mesmo para fazer velas.
Embora não haja registros de uso religioso da cannabis no Egito, sua aplicação na medicina é documentada. Os antigos egípcios acreditavam que a planta tinha propriedades medicinais e era usada no tratamento de várias doenças e condições.
2000 a.C.: Sementes de cânhamo foram encontradas em tumbas egípcias antigas, indicando que o cânhamo era cultivado e valorizado por suas sementes como alimento. Além disso, o cânhamo era usado na produção de cordas, tecidos e velas.
1400 a.C.: O Papiro de Ebers, um dos documentos médicos mais antigos do Egito, menciona o uso da cannabis na medicina. Ele descreve sua aplicação para tratar problemas oftalmológicos e dores.
Cultura Oriental:
Na China, a história da cannabis remonta a milhares de anos. A planta era valorizada por suas fibras, que eram usadas na produção de tecidos, cordas e papel. Além disso, as sementes de cânhamo eram consumidas como alimento, uma fonte rica em proteínas e óleos essenciais.
O imperador Shen Nong, uma figura lendária na medicina tradicional chinesa, é creditado com a descoberta das propriedades medicinais da cannabis. Ele teria usado a planta para tratar uma variedade de condições de saúde, incluindo reumatismo e malária.
3000 a.C.: Na China, os registros históricos mencionam o uso do cânhamo para a produção de tecidos e cordas. As fibras de cânhamo eram altamente valorizadas por suas qualidades duráveis.
2737 a.C.: O imperador Shen Nong, conhecido como o “Pai da Medicina Chinesa”, é creditado com a descoberta das propriedades medicinais da cannabis. Ele usou a planta para tratar várias condições, incluindo reumatismo e malária.
Cultura Africana:
Na África, a história da cannabis também tem uma longa história de uso. Tribos indígenas, como os Khoikhoi na região sul do continente, usavam a planta em rituais religiosos e cerimônias xamânicas. Acredita-se que o consumo de cannabis nesses contextos proporcionava insights espirituais e conexões com o mundo espiritual.
Além disso, a cannabis era usada em muitas culturas africanas para a produção de cordas, tecidos e cordas de instrumentos musicais.
Séculos atrás: Tribos africanas, como os Khoikhoi, usavam a cannabis em rituais religiosos e cerimônias xamânicas. O consumo da planta era acreditado para proporcionar insights espirituais e conexões com o mundo espiritual.
Uso Tradicional: Diferentes culturas africanas usavam a cannabis para fazer cordas, tecidos e cordas de instrumentos musicais, refletindo sua versatilidade e utilidade.
História da Cannabis e seu uso Religioso e Médico:
Em muitas culturas antigas, a cannabis desempenhou um papel importante em contextos religiosos e medicinais. Os antigos egípcios acreditavam que a planta tinha propriedades medicinais e a utilizavam como parte de seus tratamentos.
No entanto, é na Índia que encontramos uma das relações mais antigas e profundas com a história da cannabis. No hinduísmo, a cannabis era associada ao deus Shiva, e muitos seguidores acreditavam que o consumo da planta os aproximava do divino. A maconha era usada em cerimônias religiosas e rituais espirituais.
Pedânio Dioscórides (c. 40-90 d.C.):
- Obra Notável: Pedânio Dioscórides, um médico grego, escreveu a obra “Materia Medica”, que desempenhou um papel fundamental na documentação do uso de plantas medicinais, incluindo a cannabis.
- Contribuição Específica: Ele descreveu a cannabis como um tratamento para várias condições, incluindo dores de ouvido e inflamações. A obra de Dioscórides influenciou significativamente a prática médica na época e nas eras subsequentes.
William O’Shaughnessy (1809-1889):
- Contribuição na Índia: William O’Shaughnessy, um médico britânico, desempenhou um papel crucial na introdução da cannabis na medicina ocidental. Durante seu serviço na Índia, ele estudou os usos medicinais da planta e publicou relatórios detalhados sobre suas descobertas.
- Datas Relevantes: Em 1839, O’Shaughnessy publicou um relatório detalhado sobre as propriedades medicinais da cannabis, observando seu potencial no tratamento de uma variedade de condições, incluindo cólicas, tétano e convulsões. Suas pesquisas influenciaram a aceitação da cannabis na medicina ocidental.
Associação com a Farmacopeia dos EUA (1851-1942):
- Inclusão na Farmacopeia: A cannabis foi incluída na Farmacopeia dos Estados Unidos em 1851 e continuou a ser uma opção terapêutica até 1942. Ela era usada para tratar uma variedade de condições, incluindo dor, insônia e convulsões.
- Data de Exclusão: Em 1942, devido a mudanças nas regulamentações e preocupações políticas, a cannabis foi removida da Farmacopeia dos EUA, marcando o início de sua proibição nos Estados Unidos.
Pesquisas em Israel na Década de 60:
O avanço nas pesquisas científicas sobre a cannabis, especialmente no que diz respeito aos seus componentes ativos, começou a ganhar destaque na década de 1960, com um dos centros de pesquisa mais proeminentes sendo estabelecido em Israel.
O professor Raphael Mechoulam, da Universidade Hebraica de Jerusalém, desempenhou um papel crucial nesse desenvolvimento. Em 1963, ele e sua equipe isolaram pela primeira vez o tetraidrocanabinol (THC), o principal composto psicoativo da cannabis. Isso abriu caminho para a compreensão das ações da planta no corpo humano.
Além disso, a pesquisa de Mechoulam também levou à descoberta do sistema endocanabinoide, um complexo sistema de comunicação entre os diferentes sistemas do corpo. Esse sistema é regulado pelos canabinoides, incluindo os produzidos pelo próprio corpo e aqueles encontrados na planta de cannabis. A descoberta desse sistema revolucionou a compreensão dos efeitos da cannabis no corpo e como ela pode ser usada na medicina.
As pesquisas em Israel não se limitaram ao THC. A equipe de Mechoulam também identificou o canabidiol (CBD), outro composto da cannabis, que não tem efeitos psicoativos, mas demonstrou potencial terapêutico significativo. Essas descobertas desencadearam o interesse global em explorar os benefícios médicos da cannabis, levando à legalização da maconha medicinal em vários países.
Pesquisas mais recentes com a Cannabis
A descoberta dos canabinoides e seu potencial uso no tratamento da epilepsia deve muito a dois pesquisadores notáveis, o Dr. Raphael Mechoulam, de Israel, e o Dr. Elisaldo Carlini, do Brasil. Vamos explorar detalhadamente suas contribuições e os avanços que possibilitaram a compreensão dos canabinoides e seu impacto na epilepsia.
Pioneirismo na Identificação do THC: O Dr. Mechoulam, nascido em 1930 em Sofia, na Bulgária, é um químico orgânico israelense. Sua pesquisa revolucionária começou na década de 1960 quando ele e sua equipe isolaram pela primeira vez o THC (tetraidrocanabinol), o principal composto psicoativo da cannabis. Essa conquista ocorreu na Universidade Hebraica de Jerusalém, e abriu caminho para uma compreensão mais profunda dos efeitos da cannabis no corpo humano.
Descoberta do Sistema Endocanabinoide: Além do THC, Mechoulam desempenhou um papel fundamental na identificação do sistema endocanabinoide, um complexo sistema de sinalização entre diferentes sistemas do corpo, que é regulado por canabinoides naturais produzidos pelo corpo (endocanabinoides) e aqueles encontrados na planta de cannabis. Essa descoberta revolucionou a compreensão dos efeitos da cannabis e sua relação com o corpo humano.
Contribuições Brasileiras à Pesquisa de Canabinoides: O Dr. Elisaldo Carlini, nascido em 1929 em São Paulo, Brasil, é um psicofarmacologista renomado que contribuiu significativamente para a pesquisa de canabinoides. Seus estudos com cannabis datam da década de 1970, quando ele e sua equipe investigaram os efeitos da planta no tratamento de epilepsia e outras condições médicas.
Estudos Sobre Canabidiol (CBD): Carlini e sua equipe realizaram um estudo notável em 1973, no qual demonstraram que o canabidiol (CBD), um dos principais canabinoides da cannabis, era eficaz na redução de convulsões em pacientes com epilepsia. Essa pesquisa pioneira destacou o potencial do CBD como uma terapia anticonvulsivante.
Impacto na Epilepsia:
As pesquisas de Mechoulam e Carlini, juntamente com outros pesquisadores, influenciaram a compreensão dos canabinoides, seus efeitos no corpo e seu potencial uso no tratamento da epilepsia. Atualmente, o CBD, em particular, é usado como tratamento complementar em algumas formas de epilepsia resistente a medicamentos. Os estudos clínicos e a pesquisa continuam a explorar o uso terapêutico dos canabinoides na epilepsia, oferecendo esperança aos pacientes que não respondem a tratamentos convencionais.
Esses dois pesquisadores notáveis, Dr. Raphael Mechoulam e Dr. Elisaldo Carlini, desempenharam papéis cruciais na evolução do entendimento dos canabinoides e em sua aplicação no tratamento da epilepsia, e suas contribuições continuam a moldar a pesquisa médica e os tratamentos relacionados à cannabis.
Mas estamos diantes de avanços na área ainda muito incipientes. Porém é importante entender de onde vêm para podermos compreender melhor para onde vamos.
Texto Dr. João Carlos Normanha