Detalharemos os principais terpenos da Cannabis Sativa ssp. envolvido na modulação, controle e tratamento da dor.
O que são os terpenos ?!
Os terpenos, também chamados de terpenoides, são substâncias produzidas naturalmente pelos vegetais, principalmente pelas árvores coníferas, conhecidos como metabólitos secundários. Eles são a maior classe química de ativos vegetais e existem mais de 30 mil tipos de terpenos descritos! Além disso, alguns tipos são voláteis, e pela sua fragrância agradável, são muito encontrados em óleos essenciais.
Ainda não se têm certeza sobre sua função nas plantas, mas sabe-se que muitas dessas árvores produzem alguns terpenos voláteis para atrair ou afastar insetos de acordo com a conveniência biológica, sendo usados como intermediários na polinização e na proteção dos vegetais.
Os terpenos mais amargos e menos voláteis ou tóxicos, por exemplo, protegem as plantas de serem comidas por certos animais. Por outro lado, alguns tipos de terpenos podem ser utilizados para atrair insetos, de modo que possam realizar a polinização, e ajudar no crescimento e desenvolvimento da planta.
Os terpenos são sintetizados na cannabis em células secretoras dentro dos tricomas glandulares , e a produção é aumentada com a exposição à luz. Esses terpenos são encontrados principalmente em altas concentrações em flores femininas de cannabis não fertilizadas antes da senescência (a condição ou processo de deterioração com a idade). O óleo essencial é extraído do material vegetal por destilação a vapor ou vaporização . Muitos terpenos vaporizam em torno da mesma temperatura que o THC (que ferve a cerca de 157 ° C), mas alguns terpenos são mais voláteis do que outros. Os terpenos também desempenham um papel incrivelmente importante, fornecendo à planta proteção natural contra bactérias e fungos, insetos e outros estresses ambientais.
Em um post anterior detalhamos a maioria dos terpenos presentes na cannabis. Clique aqui.
Efeitos sinérgicos ou Efeito Comitiva ( entourage effect )
O estudo de Carlini et al demonstrou que pode haver potencialização (uma forma de plasticidade sináptica que é sabidamente importante para o aprendizado e a memória) dos efeitos do THC por outras substâncias presentes na cannabis. O estudo duplo-cego descobriu que a cannabis com níveis iguais ou superiores de CBD e CBN para THC induziu efeitos duas a quatro vezes maiores do que o esperado do teor de THC sozinho. Os efeitos de fumar duas vezes mais de uma cepa apenas de THC não foram diferentes do que o placebo.
Essa sugestão foi reforçada por um estudo feito por Wilkinson et al para determinar se há alguma vantagem em usar extratos de cannabis em comparação com o uso de THC isolado. Um extrato de cannabis padronizado de THC, CBD e CBN (SCE), outro com THC puro e também um com um extrato livre de THC (CBD) foram testados em um modelo de rato de esclerose múltipla (MS) e um modelo de fatia de cérebro de rato de epilepsia.
Os cientistas descobriram que o SCE inibiu a espasticidade no modelo de MS a um nível comparável de THC sozinho e causou um início mais rápido de relaxamento muscular e uma redução no tempo para o efeito máximo do que o THC sozinho. O CBD não causou inibição da espasticidade. No entanto, no modelo de epilepsia, o SCE era um anticonvulsivante muito mais potente e de ação mais rápida do que o THC isolado; no entanto, neste modelo, o CBD também exibiu atividade anticonvulsivante.
O CBD não inibiu as convulsões, nem modulou a atividade do THC neste modelo. Portanto, no que diz respeito a algumas ações da cannabis (por exemplo, antiespasticidade), o THC foi o constituinte ativo, que pode ser modificado pela presença de outros componentes. No entanto, para outros efeitos (por exemplo, propriedades anticonvulsivantes), o THC, embora ativo, pode não ser necessário para o efeito observado. Sobre tudo,
O Dr. Ethan Russo apóia ainda mais essa teoria com evidências científicas , demonstrando que componentes de plantas não canabinóides, como os terpenos, atuam como inibidores dos efeitos intoxicantes do THC, aumentando assim o índice terapêutico do THC. Essa “sinergia fitocanabinoide-terpenóide”, como Russo a chama, aumenta o potencial dos extratos medicinais à base de cannabis para tratar a dor, inflamação, infecções fúngicas e bacterianas, depressão, ansiedade, dependência, epilepsia e até câncer.
Evidências clínicas para os tratamentos atuais direcionados para a dor crônica
Desde que os estudos sobre a cannabis saíram do escopo do CBD e THC exclusivos, tivemos a oportunidade de conhecer os demais compostos presentes na planta da Cannabis e que também possuem atividade biológica sobre o corpo humano, seus receptores e sistemas, tecidos e órgãos que estão presentes o endocanabinoidoma.
Em um post anterior detalhamos a ação dos fitocanabinoides no tratamento da dor crônica mas nesse estudo iremos trazer a função dos principais terpenos da cannabis, mas que também estão presentes nos produtos e medicamentos fullspectrum da cannabis, assim como outros óleos essenciais disponíveis no mercado atual.
Principais terpenos voltados para o tratamento da dor crônica
BETA CARIOFILENO
O Beta Cariofileno é um sesquiterpeno bicíclico natural presente na canela, cravo, pimenta preta, orégano, manjericão, alecrim e lúpulo e também em razoáveis quantidades em algumas cepas da cannabis. Tem efeitos analgésicos na dor inflamatória e neuropática, e tem potente ação anti-inflamatório, anestésico local, antioxidante, anticancerígeno, e citoprotetor gástrico efeitos. Seus efeitos anti-inflamatórios ocorrem via Prostaglandina E com eficácia semelhante à indometacina e etodolaco.
É um potente agonista CB2 atuando então na frente inflamatória das células do sistema imune. Grande aliado da terapia canabinoide no manejo da dor. As vezes a cepa/variante não tem tanto o terpeno que procura mas existe a possibilidade de adicionar o óleo essencial que contenha, através do uso tópico ou inalado.
MIRCENO
O Mirceno é um monoterpeno e o terpeno mais comum encontrado na cannabis e também encontrado em plantas altamente aromáticas, como manjericão, folhas de louro, capim-limão, tomilho selvagem, salsa, frutas tropicais como manga e lúpulo. Possui potentes propriedades anti-inflamatórias, analgésicas e ansiolíticas e é amplamente utilizado na indústria de cosméticos. Os efeitos analgésicos do mirceno foram antagonizados pela naloxona, sugerindo um efeito mediado por opióides mecanismo.
Tem efeitos anti-inflamatórios significativos também via prostaglandina E2 e efeitos anti-catabólicos em condrócitos humanos sugerindo potencial atividade anti-osteoartrítica e a capacidade de interromper, ou pelo menos retardar a destruição da cartilagem e a progressão da osteoartrite
ALFA PINENO
O alfa-pineno (α-pineno) é responsável pelo aroma de pinheiro, coníferas e sálvia, e é produzido por muitos ervas como salsa, alecrim, manjericão. É o mais terpeno de ocorrência comum na natureza. Mostrou atividade antioxidante e efeitos anti-inflamatórios em condrócitos humanos sugerindo potencial anti-osteoartrítico atividade, bem como efeitos anti-inflamatórios por PGE. Efeitos anti-inflamatórios na pancreatite aguda e efeitos antinocicepção. foram demonstrados.
É um inibidor da acetilcolinesterase que pode auxiliar na memória e ajudar a combater a perda de memória de curto prazo associada ao THC.
HUMULENO
O humuleno (α-cariofileno) é um isômero do β-cariofileno e desempenha um papel importante em muitos dos características entre as diferentes variedades de cannabis. é encontrado em ervas e especiarias como lúpulo, cravo, manjericão, sálvia, gengibre, hortelã e ginseng, bem como algumas frutas e legumes.
Tem fortes propriedades anti-inflamatórias comparáveis a dexametasona sistemicamente, topicamente , bem como propriedades antinociceptivas e analgésicas.
LINALOOL
O linalol é um monoterpeno encontrado em muitas especiarias e flores, incluindo lavanda, frutas cítricas, coentro, pau-rosa e louros, bétulas e é amplamente utilizado na indústria cosmética. Apresenta propriedades incluindo anti-inflamatórios e analgésicos, antinocicepção via ativação de sistemas opioidérgicos e colinérgicos, anticonvulsivante via neurotransmissor anti-glutamatérgico e GABA .
Seus efeitos anestésicos locais foram iguais aos da procaína e do mentol. Os efeitos analgésicos também foram atribuídos à adenosina Atividade e por receptores ionotrópicos de glutamato, incluindo AMPA, NMDA
Linalool significativamente induz a diminuição do uso de opióides morfina em cirurgia de banda gástrica pacientes após inalação de lavanda versus placebo.
LIMONENO
O limoneno é um monoterpeno encontrado nas cascas de todas as frutas cítricas. É o segundo terpenóide de ocorrência mais comum na natureza. É usado em muitos produtos de limpeza domésticos, perfumes e alimentos. Estudos têm características mostradas, incluindo anti-inflamatório, analgésico, antioxidante, antidepressivo e benefício imunoestimulante anticancerígeno.
Sua ação antinociceptiva se dá através da ativação dos receptores TRPA1 . O limoneno aplicado topicamente estimula o TRPA1, resultando na melhora da dor aguda, mas sua aplicação sistêmica inibe a nocicepção induzida pelo estresse oxidativo. Como o limoneno é um composto seguro, pode ser utilizado para controle da dor devido à inibição dos canais TRPA1.
TERPINEOL
O Terpineol também é um monoterpeno é encontrado em pinheiros, lilases, eucaliptos e flores de tília, e comumente usado em sabonetes, perfumes e loção. Reduziu a hiperalgesia em um modelo de fibromialgia de dor muscular crônica presumivelmente afetando o sistema opióide e receptores serotoninérgicos. Possui ações anti-inflamatórias e analgésicas propriedades antioxidantes, antiproliferativas e efeitos anticancerígenos.
ÓXIDO DE CARIOFILENO
O óxido de cariofileno é um sesquiterpenóide que pode ser encontrado em óleos essenciais, tais como cravo ou óleos de lavanda. Ele também pode ser obtido sinteticamente pela epoxidação do -cariofileno, o principal constituinte dos óleos de cravo e copaíba.
O óxido de cariofileno é encontrado em erva-cidreira, alecrim, lavanda, cravo, lúpulo, manjericão, orégano, pimenta preta e eucalipto, e muitas vezes um subproduto metabólico do cariofileno. Isso é usado como conservante em medicamentos, alimentos e cosméticos. Tem atividade analgésica e anti-inflamatória comparável à aspirina.
CÂNFORA
A cânfora vem principalmente da árvore de cânfora, é facilmente absorvido pela pele, e produz uma sensação refrescante como mentol. É usado em distúrbios relacionados à inflamação, incluindo entorses, reumatismo, dores musculares e é antipruriginoso devido às suas propriedades anti-inflamatórias, anestésicas e analgésicas locais
A cânfora dessensibiliza os receptores TRPV1 mais rápida e completamente que a capsaicina, ativa o TRPV3, e inibe o TRPA1, correlacionando-se com suas propriedades analgésicas.
EUCALIPTOL
Cineol (Eucaliptol) é encontrado na árvore do chá, alecrim, doce manjericão, absinto, árvores de chá, artemísia, folhas de louro, comum sálvia e eucalipto, e historicamente tem sido usado como um tópico para as gengivas e a pele. É um dos terpenos que também é apoiado por vários ensaios randomizados controlados por placebo.
De acordo com o Natural Health Research Institute, foi comprovada para melhorar a memória e aprendizagem cognitiva. Por causa de sua atividade inibitória da colinesterase, tem potencial para uso em doença de Alzheimer, e proteção contra inflamação induzida por beta-amiloide. O cineol tem ação antioxidante, propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, e tem sido sugerida como uma potencial terapia de longo prazo na prevenção de exacerbações da DPOC e controle da asma, doença inflamatória intestinal, e pancreatite aguda.
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Referências bibliográficas :
- Baron EP. Medicinal Properties of Cannabinoids, Terpenes, and Flavonoids in Cannabis, and Benefits in Migraine, Headache, and Pain: An Update on Current Evidence and Cannabis Science. Headache. 2018 Jul;58(7):1139-1186. doi: 10.1111/head.13345
- Russo, E.B., Hohmann, A.G. (2013). Role of Cannabinoids in Pain Management. In: , et al. Comprehensive Treatment of Chronic Pain by Medical, Intervention
